Cátedra Lourenço da Silva Mendonça:
crítica à formação colonial, reparação e antirracismo
Apresentação
A criação da Cátedra Lourenço da Silva Mendonça: crítica à formação colonial, reparação e anti-racismo tem por finalidade a realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão para promover um entendimento multifacetado e contemporâneo da escravidão e do colonialismo como projetos moderno-capitalistas cuja desumanização e implementação de monoculturas afeta ainda hoje profundamente a humanidade, todos os viventes e o planeta terra. Para melhor compreender e valorizar as cosmologias e os saberes perdidos ou subalternizados ao longo da efetivação deste sistema hierarquizante e opressor mundial, a Cátedra trabalhará de forma transnacional, pluriepistemológica e multidisciplinar, bem como em estreito diálogo como a sociedade civil, associações, instituições e entidades com pautas adjacentes, para promover uma maior articulação entre teoria acadêmica e práticas artísticas, sociopolíticas e comunitárias. Participar na reflexão sobre a formação colonial e buscar de forma ativa a reparação ética, econômica, educacional, sociopolítica, cultural e legal dos danos e traumas por ela produzidos será o objetivo principal desta cátedra. Por tudo isso, a Cátedra entende-se anti-racista.
Quem foi Lourenço da Silva Mendonça
Lourenço da Silva Mendonça, príncipe Mbundu (Kimbundu) do Reino Pungo-Ndongo, hoje Angola, foi um líder abolicionista que lutou de forma transatlântica e interseccional contra a desumanização e subjugação de africanos, indígenas das Américas, e cristãos-novos no contexto da colonização no século XVII. Mendonça abriu como procurador da confraternidade Nossa Senhora dos Homens Pretos em Lisboa, de Castilha, do Brasil e do mundo do Cristianismo ao Papa Inocêncio XI, Bispo da Cúria Romana (hoje Vaticano) e Pontífice da Igreja Católica, em 1684, um processo contra a escravização. Rememorar este processo leva à reescrita do protagonismo e da resistência africanos na história do colonialismo, do abolicionismo, e oferece, ainda, um novo entendimento sobre a escravidão na África subsaariana. É isso que argumenta José Lingna Nafafé (2022) em seu livro Lourenço da Silva Mendonça and the Black Atlantic Abolitionist Movement in the Seventeenth Century (Cambridge University Press). A exposição de Mendonça no processo jurídico contra a escravatura baseia-se no conhecimento profundo da legislação colonial da época e no pensamento ético enraizado em sua formação na cosmologia bantu.
"Mendonça levou uma mensagem de morte ao Vaticano: a morte para os africanos escravizados não era uma questão de se, mas de quando. A morte da qual Mendonça falava não era o que se poderia entender como um componente necessário a uma criatura mortal, ou seja, não era uma morte por causas naturais, mas sim uma morte imposta aos africanos escravizados por serem marcados como escravos, como propriedade de alguém. Em seu processo judicial no Vaticano, Mendonça deixou claro que os africanos escravizados no Brasil e em outros lugares estavam vivendo entre a ameaça da violência e a perda da esperança de uma existência humana adequada. Suas vidas eram varridas pela violência e pelo suicídio, que muitas vezes eles tomavam para si como uma forma de acabar com seu sofrimento. Ele resumiu o sofrimento deles no ditado latino mors certa est, traduzido para o espanhol como Morir Es Lo Mas Cierto (A morte é certa)" (José Lingna Nafafé, Lourenço da Silva Mendonça and the Black Atlantic Abolitionist Movement in the Seventeenth Century, p. 374)
Atividades
No dia 04/06 (terça-feira), teremos na UNIFESP campus EFLCH/Guarulhos o evento “A prova que exige um veredito: O caso do abolicionista africano Lourenço da Silva Mendonça no Atlântico e a resposta do Vaticano no século XVII”. Leia mais...
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