Cada vez mais, a Saúde, lugar em que se encontram a Medicina como ciência e a prática de seus profissionais, de diferentes disciplinas, se amplia para considerar os seus sujeitos. De um lado, exigindo um repensar dos fundamentos desta ciência, a exemplo, no caso das doenças crônicas, dos cuidados paliativos, do envelhecimento, quando o propósito deixa de ser curar e passa a ser cuidar, considerando a condição humana; de outro, exigindo uma nova atuação, também múltipla e interdisciplinar, capaz de abarcar os sujeitos dessa prática e a realidade em que está implicada. Dessa forma, o pensar em Saúde está para além de uma filosofia da ciência, na medida em que precisa considerar o fato de que a sua prática, necessariamente, intervém na vida, do que decorre ainda a exigência de um pensar bioético que, por sua vez, exige fundamentos calcados na multiplicidade de visões e de saberes.
Diante deste cenário, que explicita a especificidade de uma filosofia da saúde, o propósito da criação do GT Filosofia da Saúde junto ao Instituto de Estudos Avançados e Convergentes da Unifesp (IEAC/UNIFESP) é reunir estudiosos e profissionais que estejam diante deste mesmo desafio de relacionar filosofia e saúde em seu pensar e agir em saúde, na Medicina como ciência e na prática profissional e em filosofia, como área de conhecimento e atuação em saúde. Profissionais que se dedicam à investigação filosófica e sua relação com esta área, seja na perspectiva epistemológica, ética e/ou política, seja na promoção do bem-estar e do cuidado em saúde. Espera-se proporcionar uma interação entre os envolvidos e seus saberes e uma abordagem temática capaz de dialogar com o pensar em Medicina e com as práticas de assistência e cuidado, bem como fundamentar o ensino, a pesquisa e a extensão em saúde contribuindo com uma formação dos profissionais da área que considere uma perspectiva filosófica. Através de reuniões de estudo pretendemos aprofundar o tema da transdisciplinaridade em saúde e, por meio de discussões participativas entre os membros do grupo, de diferentes saberes e atuações em saúde e na filosofia, considerar o sentido prático dessa reflexão de modo a tornar a prática dos profissionais envolvidos objeto de estudo do próprio grupo.
Objetivos
Criar um espaço de reflexão interdisciplinar e interprofissional que contribua para o desenvolvimento teórico e prático dos fundamentos de uma filosofia da saúde, na identificação e fortalecimento de sua especificidade, oferecendo espaços formativos para profissionais das diferentes áreas da saúde que considerem uma perspectiva filosófica e, para profissionais das diferentes áreas da filosofia que considerem a especificidade da interface com a saúde.
O congresso internacional “A nossa paixão pelo futuro: Filosofia, educação, saúde e sustentabilidade” ocorreu nos dias 27, 28 e 29 de agosto na PUCPR e também no Colégio Integral.
A Profa. Dra. Viviane Cristina Cândido, em colaboração com pesquisadoras(es) do grupo, cunhou o conceito de Filosofia da Saúde. A Filosofia quando se coloca em diálogo direto com a Saúde atravessa questões como corpo, tempo, finitude, normatividade, identidade, linguagem, sofrimento, desejo, entre outras. Essa reflexão exige escuta plural, atenção à experiência concreta e a criação de uma linguagem capaz de articular filosofia, clínica e narrativa dos sujeitos, em defesa do cuidado como prática ética voltada à vida.
Trata-se de uma Filosofia que se constitui como encontro, escuta e construção conjunta; que se realiza na prática, na missão compartilhada, na investigação colaborativa e que, inclusive, pode contribuir de forma efetiva para a formação profissional e humana. Esse percurso evidencia que há potência no entrelaçamento dos saberes, mostrando que cuidar e pensar não se contrapõem — são expressões de um mesmo gesto ético de atenção à vida. Não se trata, portanto, de aplicar teorias filosóficas à saúde, mas de permitir que a própria prática do cuidado, no exercício da medicina e das ciências da saúde, suscite questões que convoquem a filosofia.
O Painel 2 – Filosofia da Saúde, com membros do GT da ANPOF, apresentou reflexões sobre essa interface. O filósofo Philippe Lacour (UNB) discutiu a necessidade de superar visões reducionistas, comuns às ciências, à Medicina e até à própria Filosofia. A médica geriatra Lara Miguel Quirino Araújo (UNIFESP) - foto abaixo - explorou o percurso entre cuidado e pensamento na Geriatria e Gerontologia, evidenciando o diálogo entre Medicina e Filosofia da Saúde. A filósofa e pedagoga Viviane Cristina Cândido (UNIFESP) destacou a importância de uma Filosofia da Saúde ancorada na experiência, trazendo como exemplo o contexto das doenças crônicas e do envelhecimento, à luz de Walter Benjamin e Franz Rosenzweig. A bióloga Maria Elice Brzezinski Prestes (USP) apresentou a palestra Agência, teleologia e saúde, sublinhando a necessidade do diálogo entre Biologia e Filosofia da Saúde.
No Painel 5, com integrantes do GT, a filósofa Lilian Godoy Fonseca (UFVJM) analisou o negacionismo climático, ressaltando a relevância da educação ambiental e da bioética. O filósofo Anor Sganzerla (PUCPR) abordou a Bioética como ciência da sobrevivência, inspirado por Van Rensselaer Potter. Já o filósofo João Cortese (USP) refletiu sobre os contornos de uma Bioética capaz de responder aos desafios do século XXI.
O Painel 9, composto pela coordenação ampliada do GEFS – UNIFESP/CNPq e membros do GT na ANPOF, reuniu múltiplas abordagens: a advogada Fernanda de Cássia Rodrigues Pimenta apresentou resultados sobre a presença da Filosofia nos cursos de graduação em Saúde; a psicóloga e psicanalista Clarissa Carvalho Fongaro Nars destacou a contribuição da Filosofia da Saúde na formação de psicólogos e psicanalistas; a odontóloga Luciana Alves da Costa discutiu suas aplicações na Odontologia; e a filósofa Isabela Alline Oliveira defendeu a transdisciplinaridade como essência da Filosofia da Saúde, propondo repensar o ensino filosófico voltado ao campo da Saúde.
Para acompanhar o evento via YouTube clique aqui.