Nota de pesar sobre o falecimento do prof. Elisaldo Carlini

Texto escrito por Maria Lucia O. S. Formigoni


Em 16/09/2020, perdemos um dos mais importantes pesquisadores de nossa universidade: o Prof. Elisaldo Luis de Araújo Carlini, aos 90 anos. Considerado o maior  nome da ciência brasileira e internacional quando o assunto é o uso medicinal da cannabis sativa (maconha), graduou-se em Medicina pela Escola Paulista de Medicina em 1957, fez Mestrado na Universidade de Yale e recebeu o título de  Doutor honoris causa de inúmeras universidades, dentro e fora do país. Embora nunca tenha feito um  Doutorado formal (para encontrar seu CV na plataforma Lattes é preciso desmarcar este requisito), foi orientador de 37 Mestrados e 29 Doutorados, entre eles o primeiro da Escola Paulista de Medicina, em 1971, de Jandira Masur, que se tornou sua mulher e cientista pioneira no Brasil  estudo da dependência de álcool e outras drogas. 

Carlini foi autor de mais de 300 artigos científicos. Professor carismático, cientista pioneiro no estudo das drogas psicotrópicas, nunca deixou de trabalhar, orientar e lutar pelas suas ideias e ideais, mesmo após sua aposentadoria compulsória. Na década de 1970, ele criou o setor de Psicofarmacologia, no Departamento de Bioquímica e Farmacologia, que veio a se transformar no Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, onde nasceu o Programa de Pós-graduação em Psicobiologia, um dos mais conceituados da UNIFESP e do país (nota 7 da CAPES). Atuou também, até seu falecimento, como orientador de mestrado e doutorado do Programa de Pós-graduação em Medicina Preventiva da Unifesp.

Carlini também criou o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID), setor responsável pelos primeiros levantamentos nacionais sobre o uso de álcool e outras drogas com amostras representativas da população geral, de estudantes e de crianças em situação de rua. Lutou incansavelmente pelo uso racional de medicamentos, incluindo analgésicos opióides, pela descriminalização do uso de drogas e principalmente pelo uso medicinal da maconha e seus  derivados. Ele coordenou pesquisas sobre plantas  com ação medicinal e atuou também na área de farmacovigilância, tendo sido presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e membro do Conselho Econômico Social das Nações Unidas (ECOSOC/ONU). Foi membro do Expert Advisory Panel on Drug Dependence and Alcohol Problems (da World Health Organization (WHO), do International Narcotic Control Board (INCB) durante 7 mandatos, eleito pelo Conselho Econômico Social das Nações Unidas. Foi também  coordenador da Câmara de Assessoramento Técnico Científico da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD).

Atuou em movimentos pela legalização da maconha medicinal e em defesa das liberdades democráticas, defendendo suas ideias de forma contundente. Sua paixão e amor pelo trabalho e pelos seus ideais contagiaram seus alunos e colegas. Seu exemplo de cidadania e dedicação à universidade inspirou e inspira seus alunos, colegas e pessoas que acreditam em uma sociedade que valorize e promova a educação, a ciência, a ética, a equidade e a justiça social.


Maria Lucia O. S. Formigoni, sua “neta científica”.

Professora Titular do Departamento de Psicobiologia

Escola Paulista de Medicina (UNIFESP)