Metodologia

A metodologia será transnacional, pluriepistmológica e multidisciplinar.

 

  • Transnacional porque pensará além das fronteiras e dos interesses acadêmicos, sociopolíticos e artísticos circunscritos pela ideia de estado-nação. Serão contempladas, porém não vistas como definitivas, as perspectivas dos antigos colonizadores europeus implicados na formação colonial do Brasil (Portugal, Holanda e França) e da África, do próprio Brasil, dos povos originários e, sobretudo, dos povos e países africanos. Trazer e fazer dialogar as diversas perspectivas, agendas e interesses para desenvolver um horizonte contemporâneo comum que possa iluminar os desafios atuais que resultam da formação colonial será um propósito fundamental.

  • Pluriepistemológica porque contemplará as cosmologias implicadas: as práticas e os modos de conhecer de orientação judaico-cristã ou eurocristã que desenvolveu a empresa colonial como projeto moderno-capitalista; as cosmologias, ou modos de conhecer e agir, dos povos originários ainda em vigor; as cosmologias dos povos africanos sequestrados, bem como suas adaptações, incorporações e reformulações na diáspora. O propósito consiste em compreender cada epistemologia como sendo igualmente importante, questionando assim a ideia de multiculturalismo. Enquanto a epistemologia eurocristã desenvolveu, com base em sua cultura e cosmofobia, a ideia de civilizar para subalternizar, serão trazidas como contrapontos as cosmologias e epistemologias africanas, indígenas e afrodescendentes e seus princípios éticos e artísticos para contrabalançar a interpretação universalista e, em termos de moral e ética, unilateral europeia.

  • Multidisciplinar porque um pensamento crítico e de reparação acerca da formação colonial-capitalista moderna, que usou a escravatura e o racismo como seus motores, precisa contemplar as mais diversas disciplinas para chegarmos a uma visão holística do complexo universo de problemas criados no passado e no presente, e para pensar suas soluções. As disciplinas implicadas nessa discussão são:

    • Antropologia – questionamento da perspectiva eurocêntrica; saberes e práticas cosmologias alterizadas; o racismo estrutural, institucional e o racismo como forma social; produção de memórias, diferenças e desigualdades em processos relacionais;

    • Arqueologia – a investigação dos indícios, ou vestígios soterrados, além de elementos culturais e cosmológicos (arte, gastronomia, música, remédios etc.) que possam trazer novas perspectivas para uma história até agora contada pelos colonizadores;

    • Artes (artes visuais, audiovisual etc.) – arte como parte de cosmologias; arte como expressão de resistência; arte e cura; arte contemporânea decolonial ou descolonial;

    • Direito – a dimensão legal e criminal da formação colonial-capitalista; a manipulação do direito; a quebra das leis divina, civil, humana e natural; a reparação do sequestro, da compra e venda, da exploração; a devolução de objetos roubados e apreendidos;

    • Economia – as implicações do capitalismo no projeto colonial monoculturalista, a crítica do capital, custos da exploração e reparação;

    • Ecologia – saberes cosmológicos; sustentabilidade, racismo e violências ambientais;

    • Educação – pedagogia das encruzilhadas; educação anti-racista, confluências de saberes;

    • Filosofia e Teoria Política – necropolítica, eurocentrismo, epistemicídios, cosmofobia, epistemologias não hegemônicas, relações epistêmicas, auto-gestão, quilombismo, justiça cognitiva, igualdade ou inexistência de gênero, pensamento interseccional;

    • História – da escravatura e do colonialismo, da resistência e do seu silenciamento, dos genocídios, etnicídios, epistemicídios;

    • História da Arte – decolonização ou descolonização do projeto colonial da História da Arte; decolonização ou descolonização do imaginário construído durante a formação colonial; História da Arte colorida e pluriepistemológica; expressão de resistência; devolução de arte roubada;

    • Psicologia e Medicina – a saúde mental e os traumas dos sequestrados, dos colonizadores e dos escravizados; o racismo e suas sequelas psíquicas e físicas; saberes tradicionais; cura;

    • Linguística – a criação da língua portuguesa que reflete a presença das diferentes línguas e formas de pensar e se expressar; Brasil país plurilinguístico; conceitos e linguagem; 

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