Palestrante: Tiago C. P. dos Reis Miranda (Investigador Integrado CIDEHUS-UÉ)
Data: 21/10/2021 às 18h
Resumo: A «desmaterialização» dos arquivos em Portugal iniciou-se nos anos ’90 e desde essa altura se desenvolve de forma nem sempre constante, embora, por vezes, com grande vigor, ocasionando lacunas, disparidades e redundâncias, que se refletem em praticamente todas as áreas do conhecimento e da investigação.
As mais volumosas bases de dados e os mais abrangentes repertórios on line do país encontram-se a cargo das duas grandes repartições do Estado dedicadas à preservação do património bibliográfico e documental: a Biblioteca Nacional de Portugal e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Internamente, ambas coordenam projetos de integração de acervos digitais: a BNP centraliza dados oriundos de diversas instâncias político-administrativas, pedagógicas e científicas, envolvendo também fundações e coletividades socioculturais; a Torre do Tombo encabeça um conjunto constituído pelos dezoito arquivos dos antigos distritos e os das duas regiões autónomas (Açores e Madeira), onde se concentram sobretudo espólios de entidades públicas. No âmbito externo, tanto a BNP como a Torre do Tombo têm acordos com as suas congéneres noutros países e fazem parte de redes bastante maiores, assentes em afinidades históricas, políticas e/ou geográficas, como a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Europeia. Todas essas articulações tendem a ter algum tipo de expressão digital. Refiram-se, por exemplo, o Projeto Resgate - Barão do Rio Branco, a Biblioteca Digital Luso-Brasileira e a Europeana.
Para a história da Assistência e da Medicina em Portugal, decorrem daqui algumas notícias positivas: em primeiro lugar, existem on line bons catálogos de coleções bibliográficas e de grandes acervos documentais de instâncias ou entidades com competências na área da Saúde, ligadas ao Estado, pelo menos até ao início do século XX; em segundo lugar, no caso das fontes impressas, costuma também ser possível localizar na internet cópias digitalizadas de qualidade, para leitura e, eventualmente, download. Mais difícil continua, porém, o acesso à maior parte dos acervos de irmandades ou corporações com vocação caritativa, porque, mesmo no caso (particular e excecional) da Misericórdia de Lisboa, todas elas conservam ainda uma assinalável independência em relação às autarquias e ao Governo.
Entre os aspetos que atualmente se pode estudar de uma maneira exaustiva e, quase em exclusivo, com recursos on line, estão os parâmetros formais para o exercício da Medicina: praticamente todo o corpo legal português encontra-se na internet, e o mesmo se pode dizer em relação aos registos parlamentares, desde as Cortes de 1820. Quanto à «doutrina» que ao longo dos séculos orientou a atividade de físicos, boticários, médicos e cirurgiões, seja singularmente, seja em hospitais ou hospícios civis ou militares, nas enfermarias de presbitérios, conventos, mosteiros ou casas professas, o crescente cuidado na identificação de marcas de proveniência de livros antigos começa agora a permitir conhecer um pouco melhor os recursos bibliográficos efetivamente disponíveis em cada contexto.